Caso Sophia: mãe de menina morta aos 2 anos conta sobre relacionamento abusivo e afirma não ter deixado o padrasto após agressões por 'medo'
05/12/2024
Stephanie de Jesus, mãe de Sophia O'Campo, morta em janeiro de 2023, foi a última a ser ouvida no 1º dia de julgamento. Stephanie de Jesus da Silva, mãe de Sophia O'campo, morta aos 2 anos, prestou depoimento nessa quarta-feira (4), durante o último julgamento do ano no Tribunal do Júr. Ela contou que viveu um relacionamento abusivo com o também réu, Christian Campoçano, e que por "medo" não conseguiu separar após presenciar as agressões contra a filha.
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A primeira a abrir o depoimento dos réus, a pedido da defesa de Christian, Stephanie começou contando ao juiz que morava há 6 meses com o companheiro, quando a filha deu entrada já sem vida na Unidade de Pronto Atendimento (UPA), em janeiro de 2023.
Stephanie foi a primeira a prestar depoimento dos réus acusados de matar Sophia, de 2 anos
TV Morena
Veja abaixo os principais pontos citados no depoimento:
Relacionamento abusivo
Segunda a ré, eles se conheciam há apenas 1 ano, contando o tempo de namoro e o período em que estavam morando juntos. Stephanie contou ao juiz que no início o relacionamento deles era bom, até Christian se mostrar agressivo, quando já moravam juntos.
“Conforme o tempo, ele foi se mostrando uma pessoa mais agressiva, só que verbalmente, não fisicamente. Ele não gostava que eu respondesse, por exemplo, falasse um não pra ele [...] Não podia falar qualquer coisa senão ele já falava para eu calar a boca, ficar quieta”.
Durante o depoimento, Stephanie afirma que vivia um relacionamento abusivo, diz que tinha medo de pedir separação diante das ameaças de Christian.
“É porque eu nunca passei por uma coisa dessa, eu tinha muito medo do que ele podia fazer. Não só comigo, mas com as crianças ou até mesmo com alguma parte da minha família também. Ele sabia onde eu trabalhava, ele sabia de tudo [...] Então ele podia muito bem fazer alguma coisa com qualquer uma. E quando eu resolvi tentar juntar provas das fotos, criar coragem, não deu tempo”, relatou.
Uso de drogas
Ao ser questionada se utilizou ou não drogas na noite anterior a morte da filha, Stephanie disse que apenas que fingia estar usando cocaína, para Christian deixasse ela em paz.
Agressão contra Sophia
Durante o depoimento das testemunhas, a ex-sogra de Stephanie, Luciana Campoçano, contou um episódio que a ré agrediu Sophia em uma confraternização, chegando tentar forçá-la dormir com um travesseiro sobre o rosto.
Ao se questionada sobre o ocorrido, Stephanie disse nunca ter conseguido bater na filha, no máximo uma palmada. "Eu só gritava demais”.
“Ela [ex-sogra] é uma mentirosa, porque quem fez isso foi o Christian, e nesse dia o Christian que fez isso e o pai dele, ele começaram a brigar, a rolar no chão da sala. Eu estava com o Yori na rede, na varanda, junto com a Estela. Foi quando eu peguei a Sophia lá no quarto correndo, peguei os três, coloquei a Estela no carrinho e fui correndo, saindo de lá [..] Não era eu que estava batendo, era ele. Por isso que aconteceu tudo isso, porque ela é uma mentirosa, para poder defender o próprio filho", falou Stephanie.
Sophia morreu com dois anos em Campo Grande
Arquivo pessoal/ Reprodução
Dia da morte
Stephanie contou que na parte da manhã do dia da morte informou a gerente que não iria trabalhar, pra poder levar a Sophia no posto de saúde.
"Eu mandei mensagem pra minha mãe falando para ir no posto, e minha mãe até falou 'vamos agora', foi nessa hora que o Christian falou 'não, você acabou de dar remédio pra ela, ela vai melhorar, porque que você não espera pra levá-la mais tarde?'. A minha intuição falava pra me levar naquela hora, só que ele conseguiu me convencer a levar mais tarde, porque realmente eu tinha dado o remédio para ela, e passado esse tempo ela melhorou um pouco, o estômago. Tinha parado de vomitar, porém ela estava reclamando bastante de dor", contou.
Stephanie relatou que seguiu com a rotina da casa, limpando a cozinha e fazendo almoço. Após Sophia se recusar a comer, ela contou ter alimentado as outras crianças, almoçado e depois todos foram dormir.
"Eu acordei com ela reclamando de dor na cama. E aí foi a hora que eu levantei e comecei já a ficar desesperada, porque daí eu vi que a barriga dela estava já inchada. E aí foi quando eu comecei a mandar mensagem pra minha mãe desesperada, falando que a Sofia não estava bem".
A ré disse ainda que não sabia que a filha estava morta ao levar para UPA e nega que tenha ficado no celular o tempo todo, conforme afirmou médica durante o depoimento das testemunhas.
Omissão
O Ministério Público questionou a ré o motivo dela nunca ter saído da situação de agressão que afirma ter vivido com Christian.
“Porque ele não batia na minha frente. Ele sempre fazia nas minhas costas e nunca falava para mim”, Stephanie diz que Christian mandava Sophia mentir sobre os machucados e ela mentia porque tinha medo "dizia que o papai era bravo".
“Eu já apanhava, ele já me bateu até eu desmaiar. Então, eu preferia que fosse eu embaixo da terra e não minha filha”, relatou.
Estupro
Em casa, ela contou que ensinou Sophia a lavar as partes íntimas dela e que quando Christian dava banho, ele lavava o resto do corpo e cabelo, não encostava nas partes íntimas.
Stephanie disse que soube do estupro somente no júri. "Me falaram no posto mas não acreditei, acreditei somente no júri".
Em outra situação, a defesa questionou a ré sobre um histórico de pesquisa relacionado a relação sexual, 13 dias após Estela nascer.
"Ele [Christian] simplesmente queria porque queria, e eu não queria. Mas eu fui forcada. E passou alguns minutos e comecei a sentir muita dor no pé da minha barriga. Foi contra a minha vontade", relatou.
Stephanie durante o depoimento sobre a morte da própria filha
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A última pergunta feita pela para Stephanie foi o que Sophia representava para ela.
“Eu não amava, eu ainda amo minha filha e sempre vou amar. Ela sempre foi tudo pra mim, ela era ninha base, minha fortaleza, meu tudo. E sem ela eu não tenho nem mais vontade de viver. Já tentei acabar com minha vida e ate escrevi uma carta de suicídio porque não tem mais sentido viver a minha vida”.
O primeiro dia de depoimento encerrou às 20h30.
Fim do primeiro dia de julgamento
Ana Karla Flores
Caso Sophia
Criança morreu com dois anos em Campo Grande.
Redes Sociais/Reprodução
Sophia Jesus Ocampos, de 2 anos, morreu no dia 26 de janeiro de 2023. Ela foi levada já sem vida pela mãe à UPA do Bairro Coronel Antonino. Segundo o médico legista, o óbito havia ocorrido cerca de sete horas antes.
Em depoimento, a mãe confirmou que sabia que a menina estava morta quando procurou a unidade de saúde. O laudo de necropsia do corpo da menina, emitido pelo Instituto de Medicina e Odontologia Legal (IMOL), apontou que a causa da morte foi por traumatismo na coluna cervical e confirmou que Sophia foi estuprada.
A declaração de óbito aponta que a causa da morte foi por um trauma na coluna cervical, que evoluiu para o acúmulo de sangue entre o pulmão e a parede torácica. O documento ainda diz que a menina sofreu "violência sexual não recente".
As idas de Sophia à unidade de saúde eram frequentes. O prontuário médico da menina consta que ela passou por 30 atendimentos médicos em unidades de saúde da capital, uma delas por fraturar a tíbia.
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